Desenvolvimento Sustentável
Os Empregos Verdes e a Nova Economia
Em
decorrência do agravamento da crise econômica na Zona do Euro e da forte
desaceleração da atividade econômica mundial, se as previsões da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) se confirmarem, ao término deste ano teremos ultrapassado
no mundo a barreira dos 200 milhões de desempregados.
Contudo,
esse cenário desolador da economia mundial pode ser atenuado pondo-se em
prática algo que tão urgentemente necessitamos: gerar empregos verdes (green jobs) a partir da transição para
uma economia de baixo carbono; para uma economia que se desenvolva qualitativamente
sem impactar, que cresça moderadamente sem destruir, que se paute na ética de
valores de desenvolvimento sustentáveis, protegendo a flora, a fauna, reduzindo
o consumo de recursos naturais, de energia e de água.
Isso
somente será possível com a prática de uma nova
economia que respeita o meio ambiente e reconheça a necessidade de reduzir as
emissões de gases que provocam o efeito estufa, respondendo afirmativamente
pela geração de empregos em áreas-chave da sustentabilidade.
Dessa
forma, ao menos uma boa parte da geração de empregos já pode ser encontrada nos
empregos verdes, ou seja, na ocupação
de mão de obra que procura proteger e restaurar os ecossistemas e a
biodiversidade (no Brasil já são 3 milhões de postos), com destaque para a área
de energias renováveis, agroecologia, proteção de áreas de conservação,
biocombustíveis e construção civil, usando
nesse último caso, de acordo com estudos da própria OIT, a eficiência
energética em prédios residenciais e industriais, com construções mais
inteligentes que usem menos energia, água e materiais, estando assim em sintonia
à ideia de cidades sustentáveis.
Fora
isso, dentro da perspectiva dessa nova
economia que obrigatoriamente deve colocar no centro das decisões a questão
ambiental, fazendo a interface entre economia e ecologia, permitindo com que a atividade
econômica gire em torno dos ecossistemas, derrubando, assim, o cabedal teórico
da economia neoclássica que leva em conta o meio ambiente apenas pela ótica da
externalidade, há um amplo conjunto de atividades que são potencialmente
geradoras desses empregos ambientalmente equilibrados e favoráveis à qualidade
de vida.
Essas
atividades necessariamente passam pela descarbonização da atividade econômica.
Dentre essas, destacam-se: a agricultura orgânica (com o desenvolvimento de
compostagens e adubação orgânicas - transformação de resíduos em húmus), o
turismo ecológico e de aventura (englobando patrimônios culturais e as belezas
naturais), a reciclagem de resíduos (com a normalização dos catadores de
materiais e criação de cooperativas), o setor de energia solar, atividades de
apoio à produção e manejo florestal (dados da OIT - base 2009 - apontam que
esse setor emprega 12,9 milhões de trabalhadores em todo o mundo), geração e
distribuição de energias renováveis, saneamento, gestão de resíduos,
processamento e distribuição de gás natural, atividades paisagísticas, caça e
pesca, horticultura e floricultura.
Especificamente
no setor de transportes, cabe destacar como bons postos de empregos verdes o marítimo de cabotagem, por navegação, de
travessia, ferroviário de carga, metroferroviário de passageiros, além da construção
de embarcações e estruturas flutuantes. Outro setor que responde muito bem pela
geração de vagas no mercado de trabalho é o do cultivo da cana de açúcar para
produção de etanol; resguardando-se, nesse caso, os impactos negativos sobre o
meio ambiente, tais como a exaustão dos solos, degradação das matas,
assoreamento e a poluição dos rios. Com isso, os empregos verdes além de contribuírem para a redução de emissões,
melhorando sensivelmente a qualidade ambiental, servem de atenuante aos efeitos
maléficos do desemprego sobre a atividade econômica como um todo.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com
especialização em Política Internacional e mestrado em Integração da América
Latina (USP).
prof.marcuseduardo@bol.com.br
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